O Trovadismo

 

 

O Trovadismo surgiu entre os séculos XII e XV, período da Idade Média e também do feudalismo. Teve origem no sul da França e foi o primeiro movimento do mundo ocidental.

Expandiu-se em virtude dos jograis provençais; o jogral era um artista do entretenimento, que divertia a nobreza e a expressão "Trovadismo", vem de "trovador", nome dado ao poeta da época.

O jogral era de nível social inferior ao trovador, que era o autor das cantigas, que as executava mediante ao recebimento do soldo.

As manifestações eram realizadas em cantigas, poemas cantados pelos trovadores acompanhados de instrumentos musicais como a cítara, a lira, a harpa, a viola e o alaúde, entre outros, mas também era por meio de versos em prosa que contavam novelas de cavalaria, como por exemplo a obra "A demanda do Santo Graal".

Essa novela conta a história de aventuras de cavaleiros medievais escolhidos pelo Rei Artur, que procuram o Santo Graal – o cálice sagrado com que José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus Cristo.

As cantigas eram divididas em dois grupos: lírico-amorosa e satírica. O primeiro em formas de cantiga de amor e de e amigo; o segundo em cantigas de escárnio e de maldizer.

São algumas características das cantigas de amor: o eu-lírico é sempre masculino, retrata um amor impossível com uma mulher que é casada e pertence a uma classe superior à do trovador, segue uma forma de amor cortês.

Nas cantigas de amigo nota-se: o eu-lírico é feminino, apesar de escritas por homens; ao contrário da cantiga de amor, onde o sentimento não se realiza fisicamente, na cantiga de amigo (entende-se por amigo, o amado) há nítidas referências à saudade física do amigo ausente.

Os trovadores não só se dedicavam ao lirismo do amor, mas também gostavam da sátira, onde procuravam ridicularizar os hábitos e costumes da época, outros trovadores e as mulheres. As cantigas de escárnio eram críticas indiretas e irônicas. Já as de maldizer caracterizavam-se pelas críticas diretas e mais grosseiras que as de escárnio.

Vamos conhecer alguns exemplos das cantigas, em linguagem atual:

Cantiga de Amor: "A dona que eu sirvo e que muito adoro mostrai-ma, ai Deus! pois que vos imploro, senão, dai-me a morte! A que me fizestes mais que tudo amar, mostrai-ma onde possa com ela falar, senão, dai-me a morte".

Cantiga de Amigo: "Sem meu amigo sinto-me sozinha e não adormecem estes olhos meus. Tanto quanto posso peço a luz a Deus e Deus não permite que a luz seja minha."

Cantiga de Escárnio: "Conheceis uma donzela por quem trovei e a que um dia chamei Dona Beringela? Nunca tamanha porfia vi nem mais disparatada. Agora que está casada chamam-lhe Dona Maria."

Cantiga de Maldizer: "Ai, dona feia, foste-vos queixar de que vos nunca louvo em meu trovar; e umas trovas vos quero dedicar em que louvada de toda a maneira sereis; tal é o meu louvar: dona feia, velha e gaiteira."

As cantigas lírico-amorosas e as satíricas foram reunidas na forma escrita em cancioneiros, dentre os quais destacam-se: Cancioneiro da Ajuda, o mais antigo, com 310 cantigas, quase todas de amor; Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, também conhecido como "Collocci-Brancutti", com 1.647 cantigas e Cancioneiro da Vaticana, com 1.205 cantigas, ambos com os quatros tipos.

O primeiro documento em língua portuguesa é provavelmente a "Cantiga da Ribeirinha", datada de 1189 ou 1198, escrita por Paio Soares de Taveirós. A interpretação oscila entre o lirismo e a sátira, mas também podendo ser uma cantiga de amor.

 

 

 

Sibele Ligório é contabilista, técnica em informática e acadêmica de Filosofia pela PUC - Campinas. É criadora do site Vida em Poesia.