“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem
ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não
tendes vós muito mais valor do que elas?
Olhai para os lírios do
campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo
que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como
qualquer deles.
Pois, se Deus assim veste a
erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não
vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?”
Esta passagem bíblica do Livro
de Mateus é um bálsamo para acalmar a ansiedade em que vivemos,
certamente com justas causas. Mas como deixar de ter
preocupações diante das nossas necessidades básicas como
alimentação, vestimenta, moradia, entre tantas outras, mesmo
tendo amparo do nosso Deus?
O que este Livro fala, é de que
não precisamos por toda nossa atenção nestas necessidades,
porque o homem é um ser muito mais complexo do que comer, beber
e vestir, que como obra suprema de Deus, todas estas carências
serão por Ele supridas.
E qual é a diferença entre as
necessidades do homem, das aves e dos lírios? Ela está em uma
palavra: consciência.
A consciência dá ao homem a
dimensão do tempo e do espaço, das suas necessidades, da sua
finitude, o que não acontece com nenhum outro ser. O homem sabe
e pensa. E isto resume a complexidade de sua existência.
Por ter consciência, sofremos,
somos ansiosos e preocupados. Claro que nossas necessidades são
maiores que as das aves e as dos lírios. Mas passamos boa parte
da nossa vida, preocupados em preenchê-la com bens muitas vezes
desnecessários, com pessoas que pouco nos acrescentam e com
demasiadas ocupações que nos roubam cada segundo do tempo. E pra
quê? A resposta é queremos uma vida confortável e socialmente
intensa, queremos produzir mais, consumir mais. E então,
acabamos ansiosos.
Mas está errado querer uma vida
confortável, pessoas por perto, bens? Certamente que não, tudo
isto também faz parte da complexidade humana e tornam a vida
mais feliz.
O filósofo Sêneca diz em seu
livro “A vida feliz”, que a pessoa feliz é quem, graças à razão,
não está submetido à cupidez nem a temores, é quem atenta ao seu
corpo e a tudo que a ele tange, mas sem ansiedade, é quem é
amante das vantagens que aprimoram a qualidade de vida, mas com
precaução, assim nossa vida irradiará alegria, tranqüilidade e
bem-estar perene.
Tanto nos ensinamentos bíblicos
como nas sábias palavras de Sêneca, percebemos que às vezes é
bom dar uma pausa na nossa ansiedade para contemplar
despreocupadamente o que é simples, como a vida das aves do céu
e a beleza dos lírios do campo. Isso também é felicidade.
Sibele
Cristina de Castro Ligório
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